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Ser escritor na era digital é...

06/09/2011 / Ana Mello

“Tenho a impressão de acordar analfabeto e índio todo dia. São muitas palavras novas e tenho que entender o que é isso. O americano está enfiando coisas todo dia que nem espelho”, disse Marcelino Freire no Fórum Autor 2.0 realizado pela Ímã Editorial no sábado, dia 3 de setembro, no Parque Lage, no Rio de Janeiro.
 
Além de abordar as angústias comuns ao escritor que está vivendo este início de era digital e está decidindo se vive em seu castelo ou se conversa com seu leitor pelas mídias sociais, o fórum discutiu assuntos como a publicação de narrativas em mídias sociais e suportes alternativos, as narrativas colaborativas e as não lineares, a publicação e autopublicação, e distribuição em e-book em canais aterritoriais, entre outros. Participaram Sérgio Rodrigues, Cristiane Costa, Carlo Carrenho, Ondjaki, Marcelino Freire, Simone Costa e C. S. Soares. A moderação foi do editor Julio Silveira.
 
Cristiane Costa falou sobre o assunto que pesquisa: as narrativas expandidas. “Hoje, a graça é inventar uma nova forma de contar uma história”, comentou a jornalista e professora. Ela apresentou alguns exemplos do que se anda fazendo por aí com o livro, ou melhor, com a história, como o Vook, geradores de textos, uso da realidade aumentada. Já a escritora Simone Campos contou sobre sua experiência de escrever livros interativos e disse que para criá-los tem até que estudar matemática e lógica.
 
A partir da ideia de que a literatura é um conjunto de palavras que evoca imagens na cabeça do leitor e que ao dar a imagem pronta você tira algo do leitor, Sérgio Rodrigues disse que essas novas formas de narrativas deveriam ganhar um novo nome. “Não vejo como continuar chamando isso de literatura. Só para usar a fama da velha literatura? Vamos dar outro nome.” Para o jornalista, a posição do escritor está passando por mudanças e o manter distância do leitor está fora de moda. Mas ele também não acredita que seja possível conseguir fazer alguma coisa estando o tempo todo conectado no Twitter e Facebook e ainda respondendo os e-mails dos leitores. “Para que você mesmo consiga ouvir a voz da sua cabeça é preciso de um pouco de silêncio”, comentou.
 
Ondjaki está nas mídias sociais e gosta dessa interação que acontece entre leitor e autor em feiras do livro e eventos, mas anda bravo com o Facebook que mudou algumas configurações e agora seus “amigos” conseguem comentar suas atualizações. “O acolhimento é muito bom, mas essa exposição às vezes atrapalha um bocado”. O escritor angolano não vê essas novas mídias como ameaça ao livro e acredita que estamos no meio do caminho entre o começo da revolução digital e o que será o livro.
 
Carlo Carrenho, diretor da Singular, membro da Confraria dos Bibliófilos e leitor de livro digital, acredita que em um ou dois anos a fatia de e-books no mercado brasileiro ainda será pequena, mas prevê um crescimento exponencial. Para ele, em seis anos o cenário será bastante distinto. Isso se o governo não se antecipar e criar algum programa para o livro digital. “É só o governo decidir comprar e em dois meses os editores vão amar o livro digital e terão tudo pronto”, comentou.

A autopublicação também é algo que cresce no mercado editorial nacional e internacional. “Vai-se publicar muito lixo, mas vamos conhecer muita coisa boa”, disse, lembrando que Julio Verne só foi publicado pela 14ª editora. E que Marcelino Freire bancou a edição de seu livro de estreia por não ter tido muito sucesso com as editoras que procurou. Hoje, depois de ter tido outras obras lançadas por uma grande editora e vencido o Jabuti, voltou à publicação independente. “Cada um tem uma história para contar e agora pode contar”, disse Claudio Soares, também adepto da autopublicação.

   

 

Fonte: PublishNews - 05/09/2011 - Maria Fernanda Rodrigues